sexta-feira, junho 03, 2005

Brasília: tú es divina e graciosa ...

Olá caro único leitor amigo, depois da polêmica quanto andar a pé em Brasília. Por sinal, agradeço a participação dos leitores amigos brasilienses de coração, por opção e por obrigação. Gostaria de expressar que concordo plenamente da dificuldade de locomoção em Brasília, o transporte público é uma piada, tudo é longe, tem muito barro sim em algumas partes da cidade. Mas o que não impede que seja uma cidade adorável em seu clima bucólico e por vezes árido.

A minha sugestão é convida-los a sair para andar pela cidade sem o compromisso do relógio, do objetivo final, andar pela cidade sem rumo certo, não como um meio a chegar a algum lugar, mas como fim em si mesmo.

Algo estranho? Algumas vezes sim, já que temos uma vida tão martirizada pelo relógio e aprisionada pelos compromissos e metas a alcançar. É por isso que vagar um pouco pela cidade, pode proporcionar o encontro, não só de lojinhas, restaurantes, cafés, entre outras coisas interessantes, mas também de um tempo de relaxamento, de reflexão e para si próprio.

Amanda Menezes é uma quase bacharel, brasiliense de nascimento e coração, e acredita que Brasília já não é mais uma jovem impulsiva, mas ainda guarda em si a crença no futuro que só os jovens de alma possuem
.

Para adicionar a minha nova série de textos sobre Brasília, vou postar esta crônica do Alexandre Garcia sobre a cidade, a qual ele escreveu para a comemoração de 45 anos de Brasília.

Brasília
Alexandre Garcia

A maior parte das notícias de Brasília que chegam aos estados saem desses prédios bem-desenhados de Niemeyer.

Isso faz o Brasil imaginar que Brasília é só a Esplanada dos Ministérios ou a Praça dos Três Poderes, que reúne o Supremo Tribunal, o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto. Muitos ainda podem pensar que o coração de Brasília pulsa no Palácio Alvorada, a residência oficial do presidente.

Talvez fosse assim há uns 25 anos. Hoje, não é mais. Feita para 500 mil habitantes, Brasília tem 2,5 milhões. E tem tanto carro que seriam suficientes para transportar a população inteira, sem ninguém precisar de ônibus. Não é a campeã do funcionário público. Perde feio para o Rio, para São Paulo, para Minas. E nem é responsável pelos políticos que aqui estão. Nos ministérios, apenas um é de Brasília, e na Câmara e Senado, apenas 11.

E o coração de Brasília pulsa em vários pontos do Distrito Federal. as cidades satélites deixaram de ser satélites para ter também vida própria. O conjunto urbano de Taguatinga e Ceilândia está entre as 10 maiores cidades brasileiras em população. Uma das mais novas cidades do Distrito Federal, Samambaia, formou um aglomerado urbano que se perde no horizonte. Tem até uma cidade serrana, Sobradinho, a mais de 1,2 mil metros de altitude, onde se sentem as mais baixas temperaturas do DF. Feita para abrigar a burocracia, o papel já não é o maior produto da capital. Lá, se cria gado, se exporta soja e frango; há grande produção de leite, ovos, e até auto-suficiência em legumes.

Brasília reuniu, ao longo das décadas, todos os sotaques, todas as comidas, todos os folclores, todas as músicas, todos os rincões. Para os que chegam, Brasília enfeitiça com uma fórmula que tem céu, sol, brisa o ano inteiro e um horizonte a provar que a terra é redonda. O sol, que todas as manhãs espia majestoso sobre o lago Paranoá e depois de reger o melhor clima do Brasil (segundo os brasilienses), todas as tardes exibe um espetáculo diferente.

Mar? Sim, Brasília tem o lago Paranoá, que envolve a cidade com um abraço úmido, suavizando o ar de altitude. Nos fins-de-semana, o povo vai à praia e a terceira frota de barcos de recreio do Brasil levanta âncoras e iça velas, para singrar águas cristalinas que no passado foram poluídas. Às margens, o aprazível Pontão, onde a juventude passa as tardes; ou restaurantes charmosos, modernos, ou rústicos, que servem comidas deliciosas. Foi-se o tempo em que Brasília tinha poucos restaurantes. Hoje, são muitos, premiados e estão sempre cheios. Aliás, Brasília tem público para tudo.

A festa máxima se realiza agora, na Granja do Torto: a feira agropecuária, que mostra a pujança da roça, no DF, e o gosto sertanejo da capital que fica no interiorzão do Brasil. O povo de lá é eminentemente gregário. É só lenda a história da cidade fria, sem esquinas. Esquina? O que é isso? Lá, as pessoas se encontram em lugares especiais. No Gilberto Salomão, no Conjunto Nacional, no Parkshopping, no Pistão Sul, só para citar alguns pontos. Ou nas feiras: no Paraguai, do Guará, a mais famosa delas, ou na feirinha do Lago Norte, que reúne todos os cardápios do Brasil e do mundo. Ir a São Paulo para comprar em butiques? Para quê? Brasília tem todas as grifes, todos os luxos.

E nem tudo é palácio, mesmo. Brasília tem favela, tem miséria, tem assalto, é campeã de seqüestro relâmpago, tem péssimas pistas de péssimo asfalto, tem carro demais e congestionamentos que pioram a cada dia. Talvez essas mazelas sejam a prova mais sofrida de que Brasília já não é uma cidade diferente das outras.

1 comentários:

Anônimo disse...

Eu, como um (já) autêntico brasiliense defendo a nossa cidade! Concordo com o texto do Alexandre Garcia e para mim Brasília é linda além de ter praticamente tudo. Só falta a gente mesmo conhecer a cidade, seja à pé, de carro ou no que resta dos ônibus! Bjus amandita