sexta-feira, agosto 03, 2007

HOMEMÚSICA de Michel Melamed


“Antes de tudo, a Música (...) E todo o resto é literatura.”Paul Verlaine – Arte Poética

Michel funde as linguagens: Poesia, teatro, arte-tecnologia, humor, projeções em vídeo, música. Tudo se canaliza em único corpo para provocar na platéia o desejo de pensar a respeito do que se está assistindo. Mesmo que a velocidade das cenas nos atordoem, ainda dá para pensar, rir e ficar atônito.


Baseado no romance homônimo e inédito (com lançamento previsto para o segundo semestre pela Editora Objetiva), o espetáculo completa a TRILOGIA BRASILEIRA iniciada com os espetáculos Regurgitofagia e Dinheiro Grátis.


HOMEMÚSICA conta a história de Helicóptero, um jovem brasileiro com um dom único: cada parte do seu corpo emite o som de um instrumento musical. Porém, não confie muito no otimismo de Helicóptero, rapaz que consegue tirar som específico de cada parte do corpo. Com guitarra em punho e banda afiada na cozinha, ele comanda o show que aparentemente exalta a música brasileira.

A cara de ode à maravilha rítmica esconde sentimento ferrenho ao país que coleciona ao menos 10 barbaridades contra seu povo expostas todos os dias nas páginas dos jornais.

Michel Melamed vai pôr frente a frente esses dois estados antagônicos de sentimentos para criar paradoxo que impulsione uma reflexão. “Estou dividido entre o Brasil que amo e o que não suporto. O Brasil das milhões de maravilhas, da música rica que gera orgulho. O Brasil das máfias em todos os segmentos, da violência diária na qual qualquer um chuta qualquer um e nada acontece.” Na verdade, ele alimenta um tipo de paixão platônica pelo Brasil, o venera, só que esse país só lhe FODE.

“Podia ser em qualquer direção que o sentido seria um só. Os paus-de-arara, ônibus, carroças e caminhões, todos atravessam o país sem fazer cócegas, carinho ou cicatriz. O mapa parece intocado apesar do trajeto incessante. Como um carrinho de mão por sobre a terra este rastro deveria ficar marcado, este percurso merecia se fundir ao chão, afundá-lo. Essas estradas que ligam o norte e o sul do país, pelas histórias que carregam, deveriam estar abaixo do nível do mar.

Mas não é assim que banda nenhuma toca. E é por isso que tem cidade grande e cidade pequena. Tem a cidade que manda e a que corre atrás da bolinha, traz os chinelos. É cidade catando migalha, cidade de quatro pra cidade, chupando o pau de cidade, tomando cascudo e vomitando sobre a outra que agradece dada a penúria. E maioria em volta em silêncio. De vez em quando o som das rodovias rompe esse silêncio, mas não muda nada não. Porque as cidades estão só brincando, são como crianças. Crianças perversas maltratando-se umas às outras. Daí tem a cidade maiorzona, desengonçada e má, que bate em todo país, mas que mais dia menos dia vai levar porrada de todas juntas ou de uma pequena, que então vai virar herói e namorar a cidade mais bonita daquela região...”

Por isso, Helicóptero nascido no interior de um destes Brasis, a fim de fazer-se cumprir como artista ele ruma ao Sul-Maravilha para participar do programa de tevê que possui 100% da audiência nacional: o ‘Show do Estupra’ – a mera lembrança do Caldeirão do Huck não parece coincidência acidental.
As coisas, porém, não acontecem como o imaginado e, ao invés do reconhecimento, ele encontra o amor e, então, o desamor...

Ah, o AMOR, esse perfeito, grande e único amor... Invenção romântica que tem seu fim apressado pela crença que a tudo resiste e supera: traição, ciúme, verdades, ao seu verdadeiro eu, e sim, caro único leitor amigo, as provas de amor. Tudo só apressa o fim desse amor, pois esse é falível e como o é... Então, o desamor...

Em suma, o Homemúsica é uma carta de amor e de repúdio ao Brasil. Perpassando por questões das riquezas humanas e dos problemas brasileiros, acentuados pela falta de desesperança de deu povo.

O espetáculo foi contemplado com o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz.

Ficha técnica:
Elenco: Michel Melamed (guitarra, voz, texto, canções, direção), Lucas Marcier/ Estúdio Arpx (baixo, sampler, direção musical), Roberto Silva (trombone), Murilo O´Rellly (percussão) e João Di Sabatto (bateria).


Comentário adicional que talvez você, caro único leitor amigo, dispense:
Michel Melamed é um show em todos os sentidos...

2 comentários:

Anônimo disse...

queria saber se eu, nunca tendo visto antes uma peça desta trilogia, irei entender ou apreciar/entendê-la tanto quanto quem viu todas as outras. alguém me ajuda?

Amanda disse...

Raul, eu tb não tive o prazer de ver os do primeiros textos, mas é totalmente compreensível e apreciável. Mas em breve sai o livro, poderemos lèr. Abs.