quinta-feira, julho 23, 2009

Budapeste era amarela

Quando criança, fascinava-me o mundo das letras. Lia compulsivamente como que em um processo de autofagia. Devorava livros como se consumisse a mim mesma.

Passava noites em claro a devorar livros e mais livros. Lia passagens, sublinhava, escrevia sobre a emoção que em mim afloravam, marcava a última página lida e fechava a obra. Levantava-me, tentava sair, fazer outra coisa ou simplesmente dormir. No entanto, como que um imã, aquelas histórias me atraiam de forma irresistível. Elas, ainda, não me pertenciam, e eu não poderia esperar para possuí-las.

Sim, caro único leitor amigo, possuí-las. Porque depois de conhecê-las, elas me pertenciam. Passava a ser coadjuvante em histórias que ocorriam em todos os lugares do mundo, caminhava por diferentes cidades como nativa, falava línguas que nunca aprendi e seus personagens passariam a compor minha vida.

Conheci tantas ruas antes mesmo de pisá-las. Vivi paixões que nunca insuflariam meu coração. Mas não posso negar que amei cada personagem.

Esse vício que me alimentava, também, consumia-me. Por vezes, dividia-o com a paixão pelo cinema. Sonhava em traduzir as letras em imagens e sons. Desejei ser cineasta antes de querer ser mulher.

No entanto, alguma magia perdeu-se ao longo dos últimos anos, e poucas letras conseguiam afetar-me como aquelas de minha infância.

Contudo, esses dias tornei-me José Costa, um homem de meia idade apaixonado por húngaro e perdido em uma Budapeste amarela, e não cinzenta como pensava que fosse.

5 comentários:

Daniel P disse...

Feliz aquele que se apaixona pelos livros, não? Eu confesso que leio bem menos do que gostaria, por vários motivos, o principal porque em geral estou envolvido com literatura técnica de engenharia.

Mas desde cedo sempre gostei de ler, embora seja um pouco chato na escolha da leitura...não é qualquer coisa que me prende atenção. Fora que ADORO crônicas e poesia, em detrimento de romances, por exemplo.

Daniel P disse...

P.S.

Melhores que já li:

- Vidas secas, Graciliano Ramos;
- Encontro Marcado, Fernando Sabino;

- Quase tudo do Fernando Pessoa e grande parte da Martha Medeiros;
- LF Veríssimo lido em saraus, imperdível e impagável.

Amanda disse...

Gostei de vidas secas, mas é leitura ardua como a própria história. Li quase tudo de fernando sabino e do LFV. Fernando pessoa é sem comentários. Já li algo da Martha Medeiros, mas nada que mto marcante.

Sou fã mesmo é da Isabel Allende, Machado de Assis e do Gabriel Garcia Marquez. Vez por outra leio umas coisas mais leves bem agradaveis, como Budapeste :). Mas acho q as leituras mais doces foram as coletâneas juvenis do ALvaro Cardoso Gomes, até hoje me pego a lembrar.

Clari... disse...

Budapeste amarela... que linda a imagem, né?? Mas acho que amarelo era o estado interior dele... Eu conheci um leste europeu gélido, mas pra mim foi tudo tão aconchegante como uma madrugada ao pé de uma lareira... Em cores: laranja, ainda que os tons reais das paisagens fossem cinzentos...

mari disse...

Amei budapeste. Perfeito,bj