sábado, junho 09, 2007

Alguma das melhores coisas da Vida

Amigos de verdade;
Amigos que ligam quando você está solitária;
Fazer novos amigos ou ficar junto dos velhos;
Sair com os amigos;
Passar o tempo com os amigos;
Ver os amigos rindo;
Segurar as mãos de um amigo;
Encontrar com um velho amigo e descobrir que têm coisas que nunca mudam;
Viagens com os amigos;
Viajar;
Voltar para casa;
Conhecer gente nova e bacana;
Nascer do sol depois de uma ótima noitada;
Pôr do sol ouvindo música;
Brisa do mar;
Trilha no cerrado;
Cachoeira bem gelada;
Um longo banho muito quente;
Aparições desejadas de surpresa;
Presente inesperado;
Ver a expressão de alguém que ganhou um presente que queria muito de você;
Dançar até não agüentar mais;
Cantar uma música sem saber a letra;
Água quando se está com sede;
Sorvete no Inverno;
Brigadeiro quente de colher;
Uma cerveja, uma vodka, um vinho para relaxar;
Acender um cigarro na hora do estresse;
Comer e Emagrecer;
Escrever;
Ler;
Achar algo que parece ter escrito sobre e para você;
Comprar algo que te faça feliz;
Sobrar dinheiro do salário;
Fazer perguntas indiscretas e obter respostas;
Deixar aquele cara sem palavras;
Alguém gostar de você;
Você gostar de alguém;
Abraçar a pessoa que você ama;
Ter calafrios ao ver aquela pessoa;
Paixão Platônica;
Paixões correspondidas;
Amor;
Perceber que a paixão da sua infância ainda te olha diferente;
Beijo na boca;
Beijo de qualquer maneira;
Olhares provocantes;
Ficar boba de vez em quando ou de vez em sempre;
Falar algo inteligente que você nem sabia que sabia;
Saber que a banda que você ama está vindo tocar;
É você vai ao show;
Ouvir baladas no escuro;
Dançar e cantar no banho;
Andar sem rumo;
Superar-se;
Sonhos realizados;
Telefonemas inesperados de alguém distante;
Buscar alguém no aeroporto que você não vê faz tempo;
Colocar na rádio bem na hora que está tocando a sua música.
Capuccino;
Rever fotografias;
Banho de chuva;
Planos para o futuro;
Receber um enorme sorriso quando você chega;
Receber cartas;
Decisões impulsivas que dão certo;
Sorrir sozinha no meio da rua;
Rir de você mesmo;
Rir sem absolutamente razão nenhuma;
Rir por alguma coisa que você lembrou;
Rir até o rosto doer e perder o fôlego;
Ouvir acidentalmente alguém falar bem de você;
Ter alguém pra te dizer que você que é bonita;
Admirar alguém;
Acordar e perceber que ainda faltam algumas horas para ter que acordar;
Ficar de preguiça na cama;
Bons sonhos;
Abraço de mãe quando tudo dá errado;
Alguém te abraçar em silêncio quando você está triste;
Ter esperança;
Olhar pro céu e ver que tudo faz sentido;
Imaginar que você, caro único leitor amigo, está sorrindo ao ler esse meu texto.

sexta-feira, junho 01, 2007

Eterno Pecador

Hélio Schwartsman, 41, é editorialista da Folha. Bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001. Escreve para a Folha Online às quintas.

Quis evitar mais uma coluna sobre o papa Bento 16 assim como o diabo foge da cruz, mas não resisti. Caí em tentação. Há duas coisas sobre o sumo pontífice que ainda acho necessário destacar. A primeira, como bem observou o José Simão, é que ele fala português melhor do que o Lula. A segunda é que o santo padre é um estopador em anidropodotecas --apesar de incomum, essa é a expressão mais elevada que encontrei para dizer "chato de galochas".

No plano lingüístico, muito embora o presidente brasileiro demonstre maior segurança na utilização do idioma, o bispo de Roma é mais escorreito no emprego daquilo que se convencionou chamar de concordância verbo-nominal. Talvez por influência do latim, quando o papa fala, um plural é um plural --o que nem sempre ocorre no discurso presidencial. Em termos de conteúdo, entretanto, fico com Lula, que me surpreendeu positivamente ao defender de modo polido, mas sem deixar de ser enfático o Estado laico. Constato com satisfação que, no poder, Lula vendeu-se apenas aos banqueiros, e não aos banqueiros e aos padres como eu já receava.

Antes que me tomem por um anticlerical empedernido, devo dizer que estou entre as pessoas mais tolerantes do mundo. Ao contrário de muitos representantes dos meios seculares intelectualizados, não pretendo cassar a palavra ao Vaticano. Suas posições contra o aborto, a eutanásia, o sexo antes do casamento, a camisinha, as drogas e a reprodução assistida são tão boas como as minhas a favor disso tudo. E, se eu tenho o direito de me manifestar, é líqüido e certo que o papa também pode dizer o que pensa.

E é preciso reconhecer que ele o fez, talvez até com algum exagero. Em praticamente todas as suas intervenções por aqui, o sumo pontífice aproveitou para passar o seu recado. Nem bem desembarcou, condenou o aborto. Falou aos jovens e condenou o aborto. Criticou os traficantes e condenou o aborto. Abriu a conferência episcopal e condenou o aborto. Despediu-se e condenou o aborto. O lado bom é que agora não temos nenhuma dúvida de que a Igreja Católica condena o aborto.

De novo, não vejo problemas nas colocações papais. Quem partilha do pressuposto da igreja de que existe uma moral eterna e incondicionada e aceita a noção de que a vida tem início na concepção não poderia mesmo dizer outra coisa. O católico que queira conservar-se um bom católico está obrigado a aceitar as determinações papais. Como cidadãos brasileiros, entretanto, cada um de nós é livre para escolher se vai ou não pertencer a uma igreja e mesmo se vai ficar com o "pacote completo" ou apenas com partes dele --o tal do "supermercado da fé" de que Bento 16 tanto se queixa. As lógicas civil e religiosa não se comunicam.

O "projeto" deste papa é justamente expurgar a Igreja Católica dos maus fiéis, que ficam apenas com o que lhes interessa da doutrina. Quer, de preferência, transformá-los em bons devotos, mas já antecipou que está disposto a levar a ortodoxia a ferro e fogo, mesmo que isso signifique a perda de adeptos. Não vejo grande chance de sucesso nessa empreitada, mas não sou eu quem vai ensinar o papa a rezar a missa.

O problema do catolicismo em sua vertente mais rígida é que ele é contra a natureza humana. Estamos, como qualquer animal, biologicamente programados para fazer sexo --pelo menos para os homens, a estratégia mais comum é preferir a quantidade de parceiras à qualidade. Mais do que isso, temos (homens e mulheres) fortes inclinações para a busca do prazer --o hedonismo também tão criticado pelo papa-- e não gostamos que imprevistos em princípio evitáveis ou reversíveis (como uma Aids ou uma gravidez não planejada) atrapalhem nossos planos de vida. Em uma palavra, somos terrível e humanamente egoístas.

Isso não significa, é claro, que uma vida "virtuosa" seja impossível. Há quem seja capaz de viver sem sexo. Alguns jovens conseguem manter-se virgens até o casamento. Existem até aqueles que podem aspirar à santidade, levando uma vida inteiramente dedicada a fazer o bem para outras pessoas. (Poderíamos, é certo, "diminuir" um pouco o significado desse altruísmo afirmando que os candidatos a santo são tão egoístas quanto qualquer outro ser humano, só que, em vez de aplicar suas energias em obter para si deliciosas noites de enlevos lúbricos, concentram-se em garantir um lugar no céu --o prêmio máximo).

É no plano epidemiológico que os desígnios papais saem frustrados. Embora a maioria das pessoas afirme acreditar numa próxima vida, age como se esta fosse a única. Com efeito, nem os religiosos mais fervorosos parecem muito ansiosos para morrer. Esse, entretanto, seria o caminho "racional", a rota mais rápida para a tão almejada redenção. Homens-bomba são, felizmente, exceções no universo de gente com excesso de fé.

Gostemos ou não, a maioria das pessoas não quer ou não consegue viver segundo o manual de instruções do Vaticano. Farão sexo antes, durante e depois do casamento, usarão camisinha, não hesitarão muito antes de recorrer a um aborto se se virem diante desse dilema, experimentarão drogas e, de vez em quando, até irão à missa.

Esse lado mais severo do catolicismo é compensado pela boa tolerância dos padres para com os pecadores. Se em termos contratuais a religião exige do adepto o quase impossível, isso é contrabalançado pela relativa facilidade com que o faltoso obtém perdão, confessando-se e penitenciando-se. Não é surpreendente, portanto, que os próprios católicos estejam entre os primeiros a admitir que não praticam sua religião de modo muito exemplar.

O estranho aqui é que Bento 16, por todos apontado como um rematado conservador, atue com o que, creio, são os mesmos cacoetes das utopias de esquerda. À sua concepção de religião parece subjazer um papel de força transformadora do homem e, em conseqüência, da sociedade. Se a maioria agir de acordo com a moral católica, além de povoar o céu com mais almas, construiremos um mundo melhor. Não é por outra razão que o Vaticano procura convencer o Brasil a transformar o ensino religioso, hoje optativo na rede pública, em obrigatório.

E não estamos falando de pequenas transformações, de modelagens, que o meio social de fato consegue imprimir ao homem, seja pela via da educação seja pela da repressão, mas de mudanças radicais e justamente nas esferas em que nossa animalidade se faz mais notável, como o sexo e manifestações de auto-interesse. Aqui, Bento 16 lembra muito seu compatriota Karl Marx. A diferença fica apenas por conta da localização do paraíso. Para o primeiro, nas alturas, para o segundo, na terra mesmo.

De minha parte, reservo-me o direito do ceticismo. Não acho, por certo, que o homem seja um caso perdido. Se tomarmos uma escala de longo prazo, maior até que a da Igreja Católica, estamos melhorando. Já não atacamos nossos vizinhos apenas por receio de que eles nos ataquem antes. Só que as mudanças para melhor no comportamento humano vêm menos traumaticamente quando ninguém tenta impingi-las através de projetos de engenharia social ou moral. Se o capitalismo tem alguma vantagem sobre o marxismo e o catolicismo, é que ele é menos ambicioso. Não tem a pretensão de alterar a natureza humana nem tenta negar-lhe os traços animalescos.