Luiz Caversan (Folha Online)
"Encontro uma leitora-que-virou-amiga, dois anos depois. Mudou de curso na faculdade (caiu na armadilha do jornalismo...), estudou cinema um tempo no exterior, descobriu as pontes do Monet, permanece fiel às baladas, amores consistentes, aí vem a revelação:
- Estou ficando velha...
Sabe quantos anos tem a anciã da minha amiga?
22!
Sim, meros, doces, frescos e promissores 22 aninhos.
- Mas estou me sentindo velha, ué, nunca pensei que fosse envelhecer.
Bem-vinda ao clube, querida, disse, e em vez de azucrinar a cabecinha dela com aquele papo de "velho sou eu, você está na flor da idade, relaxa e goza, não me humilha...", fui por outro caminho.
- Olha, pois eu acho que eu nunca envelheci, embora meu corpo não concorde com isso. Eu tenho, há mais de duas décadas, uns 25 anos. É verdade, nada que é jovem me preocupa, assim como nada que é humano me surpreende (esta é do Turgeniev...).
Permanecer jovem sendo velho é aceitar essa diferença crucial que impede o entendimento da vida como ela é. O contrário, não sei, não...
Conversa vai, conversa vem, ela se revelando: encontrou um novo amor, quase um ano juntos, apaixonados, a ponto de ele baixar na cidade do exterior em que ela estava, só para vê-la; planos, muitos planos, morar juntos, ganhar o mundo, viver a vida, ser feliz daquele tipo de felicidade que na juventude é, ao menos aparentemente, a melhor coisa do mundo.
E ela me conta ainda que por causa desse relacionamento mudou, supostamente para bem, muita coisa de seu próprio comportamento, passando a ser mais responsável, consequente, menos transgressora e passando a perceber e respeitar seus próprios limites.
- Um amor que faz crescer, entende?
De repente a decepção: sei lá, mil coisas na cabeça do cara, estou confuso, acho que ainda gosto de uma outra lá que segundo ele tinha ficado na poeira da história, sei que vou me arrepender, mas c'est finit...
E lá se vai todo o encantamento, toda a perspectiva, o piso que sustentava a possibilidade de uma vida nova e bela, a caminho de um crescimento a dois, saudável e bom. Foi-se.
Dói, muito, humilha, destroça, enraivece, mas uma hora passa.
- Será que passa?
- Até uva passa, meu bem...
No entanto, deixa, sempre e inexoravelmente, resquícios.
Na hora da conversa nem pensei nisso, só me dei conta depois.
Ela ficou velha...
Ou pelo menos sente-se envelhecida, porque jogou toda a sua juventude nas mãos de um amor frustrado, que não teve a manha de entender a delicadeza, a fragilidade, a lindeza de sentimento que rola na cabeça de quem tem 22 anos e quer amar muito a vida que Deus lhe deu, ainda mais com uma paixão do lado.
Estava errado, o cara?
Talvez não, poderia ter sido mais cuidadoso, talvez, mas nem sempre isso adianta muito também
Tampouco está errada minha amiga.
Infelizmente, pode-se dizer a ela uma frase do Tolerância Zero: "Bem-vindo ao pesadelo da realidade, playboy", porque desilusão amorosa é, sempre, um pesadelo.
Minha amiga não é playboy, é garota inteligente que luta para ser alguém decente e de bem. Com certeza vai se tornar uma ótima jornalista e, "velha" aos 22, ainda tem muito tempo pela frente para descobrir que rugas, dores, amores e dissabores nos tornam, na possível capacidade de renascer, jovens para sempre.
Até depois dos 50, sabia?"
Caro único leitor amigo, ultimamente, eu estou velha com meus 25 anos...
1 comentários:
e eu querendo ser mais velha, mas ninguem deixa! humpf :P
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