domingo, agosto 21, 2005

Someone exactly like you

Mesmo entre os durões, quem nega que ao ver o filme Diário de Bridget Jones muda o olhar ao ouvir um dos personagens dizer a Bridget que gosta dela do jeito que ela é? E ao fundo toca o refrão: I've been searching a long time for someone exactly like you.

Someone Like you
Van Morrison


I've been searching a long time
For someone exactly like you
I've been travelling all around the world
Waiting for you to come through.

Someone like you makes it
All worth while
Someone like you keeps
Me satisfied.

Someone exactlyLike you.
I've been travellin' a hard road
Lookin' for someone exactly like you
I've been carryin' my heavy load
Waiting for the light to come
Shining through.

Someone like you makes it
All worth while
Someone like you keeps
Me satisfied.

Someone exactlyLike you.

I've been doin' some soul searching
To find out where you're at
I've been up and down the highway
In all kinds of foreign lands
Someone like you...

I've been all around the world
Marching to the beat of a different
Drum.

But just lately I have
Realised
The best is yet to come.

Someone like you...

O primeiro ano do resto de nossas vidas...

Um título pomposo e até promissor para uma fase da vida tão conturbada. Há tempos não escrevo sobre nada, não que a vida não esteja agitada, mas agora ela move-se de forma diferente, algo como a ressaca do mar. A cabeça anda borbulhante em meio à insegurança da mudança, mas algo de bom já tiro dessa situação: agora posso usar o pronome eu. Parece algo sem sentido, mas para alguém que sempre se escondeu atrás das generalizações embutidas nos “a gente”, “todo mundo”, e etc, isto é grande coisa.

Ato I – Barrados no Baile


As festividades da formatura foram bonitas, emocionantes e um pouco tristes. É bom ver todos os amigos e colegas reunidos em beca com aquela sensação de ser a primeira e ao mesmo tempo a última vez que nos vemos. Tudo muito nítido nas lágrimas, nas milhares de fotos juntos e é claro na promessa de não perdermos contanto.

Isso só confirma a sensação de que fui barrada no baile, não na entrada, mas na saída. Barrada porque fiquei ali parada sem rumo. Com certeza encarando a primeira sensação real dessa pseudo-vida-de-adulto: a vida não é segura nem linear. Mas tudo bem... Muitos sonhos ainda persistem, muitos outros ficaram para trás e muitos mais virão.

Ato II – E agora José?


Esse é o ato mais difícil dessa peça: agora o que fazer? É difícil ser uma pessoa controladora e que sempre manteve quase tudo dentro dos planos, nem que seja no plano B. Mas agora encaro a realidade da vida que não é meritocrática, matemática e nem facilmente controlável.

Mas como se enquadrar na vida adulta? Já que esta perpassa pela população economicamente ativa, da qual não sei como passar a fazer parte. Por isso mesmo, estou aqui pagando a minha língua e rasgando certos ideais. Mas acho que isso é parte de deixar de ser criança: deixar de acreditar em certas coisas, deixar de ter opiniões maniqueístas e principalmente deixar de achar que somos tão jovens e que sempre haverá muito tempo.

Ato III – Os medos

Tem coisas que temos tanto medo que não gostamos nem de pronunciar a palavra...

Solidão com certeza é uma delas. Eu que sempre sonhei com uma vida que no final é sempre solitária, ando com medo da solidão, mesmo que goste de passar a maior parte do tempo só, tenho temores recém revelados de acabar num apartamento grande demais para meus pensamentos.

Outro medo é de nunca alcançar o meu padrão de auto-exigência, especialmente porque este não usa palavras gentis e nem white lies para amenizar o que pensa. Mas até que este medo se acalentou ao ouvir que sou invejada pela minha força, independência e garra. Só que disso tiro duas coisas: ou vendo bem meu peixe ou ainda tem gente ingênua neste mundo.

Ato IV – A saudade

Ando sentindo muitas saudades do que vivi, do que nem sabida que poderia ter vivido, de mim, dos amigos e dos óculos cor de rosa que perdi em algum lugar secreto. Mas como sempre repito: saudade até que é bom, é melhor que caminhar vazio.

Ato V – FIN: Em construção

Em todo filme, peça de teatro ou ópera o último ato é o grande final, mas como a arte imita a vida, mas a vida não imita a arte, o futuro sempre é uma promessa e não um desfecho conclusivo. Por isso, estamos aqui, ali ou em qualquer lugar buscando o novo, o especial e a promessa.

To be continued …

domingo, agosto 07, 2005

Praias Paradisíacas

Eu adoro este texto do Coutinho, foi por causa dele que passei a ler sempre os textos dele. É ótimo encontrar uma pessoa tão ou até mais antipática que eu...

Porque faço questão de gostar dessas pessoas que são autênticas e não-bajuladoras e tmabém faço questão de ser uma dessas pessoas que não concorda com todo mundo só para agradar, na verdade as más línguas dizem que faço questão de descordar só pra ser antipática. Mas quem liga? Eu não.

Praias paradisíacas
João Pereira Coutinho

Aqui há uns anos, corria maio, terminei uma relação promissora com uma menina bonitinha por causa de uma expressão casual. As férias desenhavam-se no horizonte. E ela, com a ingenuidade própria dos anjos, sugeriu agosto num sítio qualquer onde existiam "águas cristalinas e praias paradisíacas".
Como é que é? A expressão, o problema está na expressão. Sim, detesto praia, porque praia é a encarnação terrena do inferno: povo, vendedores ambulantes, crianças gritando, jogando, correndo. Bichos marinhos. Afogamentos. E nudistas, sobretudo senhores de cinquenta ou sessenta anos que gostam de ostentar orgulhosamente os seus pênis mirrados. O açougue em forma humana. E toda a gente fazendo de conta que é natural: "não olha, querido, é apenas um pênis passeando pela brisa da manhã". Bom, natural é: como terremotos, furacões e outras desgraças.
Mas aquilo que me entristeceu foi a expressão. Dizer "águas cristalinas" é muito mau. Dizer "praias paradisíacas" é o fim: a corrupção da mente pela indústria do turismo.
Claro que não me livrei do ordálio anual. Quando maio aterra entre nós, as férias começam a sua dança macabra. O destino. A marcação no destino. A escolha criteriosa do destino. A escolha de acompanhantes. Minha vontade é desistir logo. E eu desisto. Marco férias e, na véspera da partida, dou entrada (fictícia) no hospital. Já fui operado de apendicite, sei lá, umas três ou quatro vezes. Uma namorada, certo dia, perguntou: "Você não retirou esse apêndice o ano passado?" Disse que sim. "Mas ele cresce, meu amor". Também retirei pedra do rim, tive princípio de infarto ("coitado, é tão jovem, etc., etc.").
Outras vezes arrumo um compromisso profissional (fictício) que me obriga a ficar. Insulto patrões imaginários. Choro de raiva. Prometo passeatas contra a globalização. "Porto Alegre, me espere!" Vou ao aeroporto, despeço-me dos amigos com muita dor, aceno como um cachorrinho sem dono, vejo o avião partir. E depois regresso, levitando, mais feliz que Gene Kelly dançando sob a chuva.
Durante duas semanas, a minha felicidade é total. O prédio está silencioso e habitável. A cidade, idem. O telefone não toca. É possível ler sem limites. Os restaurantes servem bem, os cinemas não estão lotados. Podemos dirigir. Podemos ser dirigidos. E, com muita sorte, encontramos alguém que também ficou: existe nas pessoas que ficam uma nobreza que sempre me encantou. Então as noites são minhas. E longas. E íntimas. E apaixonadas.O problema é que as férias não são normais. E as pessoas não se comportam como gente normal: comportam-se como animais em cativeiro, subitamente libertas de sua jaula habitual. Por isso correm como loucas e se comportam como loucas, exibindo uma alegria artificial. As pessoas, em férias, fazem um esforço tão delirante para "estar em férias" que muitas terminam exaustas. E em depressão. Conheci casos. E para quê?
Fiquem. Em casa. Eu vou ficar. Chega de mentiras. Tive duas propostas este ano. A "praia paradisíaca" (um clássico) e uma viagem longa a um "país espiritual" (algures no Oriente). Confessei tudo, como um criminoso arrependido. As pessoas ouvem a minha confissão e ficam incrédulas: como é possível alguém recusar filas intermináveis no aeroporto, viagens de quinze horas com um bebê que vomita leite o tempo todo, gastronomia local (tradução: disenteria) e meninos de hotel subnutridos (e explorados) que não sabem preparar um dry martini como devem? Mas depois se habituam. Algumas já experimentaram este supremo risco --não ir de férias. E quando setembro chega e o trabalho regressa, todas perguntam, com orgásmica serenidade: porque motivo andei fingindo todo este tempo?

Listas...

Eu que sempre penso em escrever minha própria lista dos melhores filmes na minha opinião singela, não posso evitar adorar as listas alheias, especialmente a parte que fica revoltada porque não incluiu certos filmes ou incluiu outros. Talvez por isso não escreva a minha própria porque perderia a parte de criticar e também porque a lista teria 3 mil filmes, mas obviamente teria “Cinema Paradiso” que é um filme perfeito para ser visto a qualquer idade.

Selvagens e sentimentais
João Pereira Coutinho, 29, é colunista do jornal português "Expresso". Ele escreve quinzenalmente para a Folha Online.

(...)

Listas e listas e listas. George Steiner, um velho sábio, costuma dizer que as listas são exercícios contra o apagamento. Por isso ele elabora, desde a infância, listas infindáveis de generais e suas batalhas, autores e seus romances, sem esquecer datas históricas, pessoais, monumentais. Entendo o gesto e simpatizo com ele.
(...)
Mais simpática é a lista do British Film Institute. Quais os filmes que todos os adolescentes devem ver (até aos 14 anos)? Anotem: "The Wizard of Oz" ("O Mágico de Oz", 1939), o clássico de Victor Fleming que me perseguiu em sonhos durante décadas (ainda hoje persegue; mas não espalhem); "Ladrões de Bicicletas" (1948), obra de Vittorio De Sica que redefiniu o cinema italiano do pós-guerra; "The Night of the Hunter" ("O Mensageiro do Diabo", 1955), escolha séria e filme sublime, de Charles Laughton, com um imbatível Robert Mitchum ("Para mim, existem apenas duas formas de representação: com cavalo e sem cavalo"); "Les 400 Coups" ("Os Incompreendidos", 1959), de François Truffaut, um dos raros "nouvelle vague" que sobreviveu ao espírito do tempo (as minhas desculpas aos godardianos); "E.T." (1982), de Spielberg, a mais bela parábola sobre a vida de Cristo: a história do extra-terrestre que desce dos céus, espalha alegria entre os humanos e regressa de onde veio, em ascensão celestial. E mais cinco que, pessoalmente, são dispensáveis: "Onde Fica a Casa do Meu Amigo" (1987), de Kiarostami (diretor de um filme bem preferível, "O Sabor da Cereja"); "Show me Love", uma produção sueca de 1998 que não vi (e, se eu não vi, não vale a pena); "Kes" (1969), de Ken Loach (neo-realismo inglês, não, por favor); e dois filmes animados, "Spirited Away" (2001) e "Toy Story" (1995).
Posso substituir estes cinco? Então sugiro "Fanny e Alexander" (1982), de Bergman; "Hope and Glory" ("Esperança e Glória", 1987), de John Boorman; "A Perfect World" ("Um Mundo Perfeito", 1993), de Clint Eastwood; o "Pinocchio" da Disney (a versão de 1940); e também "My Fair Lady" (1964) que, apesar de não ter crianças e não ser para crianças, tem mulheres e transforma qualquer futura mulher numa Audrey Hepburn em potência. Falou e disse.

sábado, agosto 06, 2005

Rosa de Hiroshima

Hiroshima, 6 de Agosto de 1945

Há 60 anos o mundo foi surpreendido com a explosão da primeira bomba atômica em Hiroshima e três dias depois em Nagasaki. Seis décadas foram capazes de reconstruir as duas cidades, que hoje são símbolos de modernidade e beleza, mas não foram capazes de fazer o mundo esquecer a morte de milhares de civis, dentre estes muitas crianças.
Mas infelizmente hoje não comemoramos o fim das guerras, a paz mundial ou o fim da s bombas atômicas . Apenas celebramos as duas faces opostas da humanidade: a estupidez que produziu essas atrocidades e a capacidade da mesma de se recuperar após grandes tragédias como estas.

Mas não pense caro único leitor amigo que visualizo os japoneses como vítimas e os americanos como os vilões. Como em toda guerra há inocentes e culpados dos dois lados, impera o que história consolida. Mas na minha opinião estupidez generalizada não é desculpa para que aceitemos e concordemos com brutalidades como estas.
Mas a minha conclusão para este tema não poderia não passar por Beatles, então vamos lá: All we need is love, just love.

Rosa de Hiroshima
Vinícius de Moraes

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa em nada