quinta-feira, abril 23, 2009

Brasília

Brasília de adolescente imprudente passou a uma jovem senhora. Carrega na leveza de seu céu azul a certeza que amadureceu nesses 49 anos.

Perdeu parte de sua ingenuidade, mas não seus sonhos. Sonho de um futuro que chegaria.

Seus traços arquitetônicos convenceram que o modernismo chegou.

Em seu ventre gerou filhos de todas as raças, origens e sotaques.
Gerou mais que isso: recriou no plano central uma microesfera da sociedade desigual e classista que é o Brasil.

Contudo, não há nada que impeça que eu perca o fôlego e pense: “Meus deus, que cidade linda”.

De fato “ergueram o espanto inexplicado”.
O tempo discordou de Clarice: Brasília tem o homem de Brasília.
Alias, sua riqueza real é a sua gente. Povo trabalhador , desconfiado, tímido, excessivamente preocupado com a privacidade, que não sabe se cumprimenta, mas que quer saber da vida alheia.
Sou filha desse ventre, mas às vezes me revolto com sua criação superprotera.
Nós brasilienses queremos deixar o lar, mudar tudo: ter praia, gente mais aberta, mais opção de diversão, realidade social real.
Só que não é a mãe superprotetora que não nos deixa ir, ela nos criou para o mundo, somos nós que percebemos que temos um mundo em nosso lar.
Vamos para qualquer lugar, mas esse lugar não sai de nós.


“Brasília é construída na linha do horizonte. Brasília é artificial. Tão artificial como devia ter sido o mundo quando foi criado. Quando o mundo foi criado, foi preciso criar um homem especialmente para aquele mundo. Nós somos todos deformados pela adaptação à liberdade de Deus. Não sabemos como seríamos se tivéssemos sido criados em primeiro lugar e depois o mundo deformado às nossas necessidades. Brasília ainda não tem o homem de Brasília. Se eu dissesse que Brasília é bonita veriam imediatamente que gostei da cidade. Mas se digo que Brasília é a imagem de minha insônia vêem nisso uma acusação. Mas a minha insônia não é bonita nem feia, minha insônia sou eu, é vivida, é o meu espanto. É o ponto e vírgula. Os dois arquitetos não pensaram em construir beleza, seria fácil: eles ergueram o espanto inexplicado. A criação não é uma compreensão, é um novo mistério." Clarice Lispector.

2 comentários:

Clari... disse...

belos textos: o seu e o dela. Adoreeeeei

Clari... disse...

que foto linda!! Adoro as árvores e as flores de brasília!