Mandala é círculo mágico:
Mandala é ponte para dimensões superiores;
Mandala é caminho a percorrer;
Mandala nos revela nosso Eu;
Mandala nos leva ao nosso centro;
Mandala nos leva a nossa Essência;
Mandala nos leva a Fonte Divina;
Mandala é energia e movimento;
Mandala é totalidade, integração e harmonia;
Mandala é o começo, o percorrer, o fim e o começo;
Mandala é morte e renascimento...
quarta-feira, maio 30, 2007
Mandala
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A Chove Chuva ...
A chuva chove mansamente... como um sono
Que tranqüilize, pacifique, resserene...
A chuva chove mansamente... Que abandono!
A chuva é a música de um poema de Verlaine...
E vem-me o sonho de uma véspera solene,
Em certo paço, já sem data e já sem dono...
Véspera triste como a noite, que envenene ...
Com muita névoa pelos ombros da montanha...
Paço de imensos corredores espectrais,
Onde murmurem, velhos órgãos, árias mortas,
Enquanto o vento, estrepitando pelas portas,
Revira in-fólios, cancioneiros e missais...
Postado por Amanda às 10:38 PM 0 comentários
terça-feira, maio 29, 2007
Ser chato
Caro único leitor amigo, retorno a esse site com um objetivo único. Dizer que em breve explicarei a complexidade de ser um chato.
Sim, não aperte os olhos, você leu certo amigo: a complexidade de ser chato.
Uso expressões derivadas de chato com frequência. Alguns pessoas ofendem-se. Não entendo porque, para mim ser chato é um elogio, uma filosofia de vida... É quase tão definidor quanto o ser "gauche" de Drummond.
Mas não cairei na tentação de explicar agora essa complexa filosofia de vida (quase tão complexa como a teoria da poligamia madura), mas em breve o farei, e quem sabe você não entrará para a fila dos que querem ser chatos na vida.
"Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida'
Carlos Drummond
Postado por Amanda às 1:06 PM 0 comentários
A conquista da noite
Realmente, sempre tive esse sonho revelado de aproveitar melhor o tempo e não perdê-lo dormindo. Hoje, sei que nunca pensei em tamanha besteira semelhante a essa.
Pelo menos, agora posso preencher minha angústia insone com o caro Coutinho...
Quem não acompanha as leituras infrutíferas desse site, não devem saber. Mas aqui o repito: adoro os textos do Coutinho. Ele é quase tão chato como eu, praticamente minha alma gêmea, com melhores dons literários.
A Conquista da Noite
Defendo o sono sempre que posso. Não brinco. Não posso brincar. Sou um ex-insone e sei bem o que custa. Só insones verdadeiros valorizam o sono com o respeito que o sono merece.
Tudo começou sem explicação racional. Certo dia, o sono foi embora. Contemplei o tecto do quarto durante uma noite inteira. Vieram mais duas. À terceira, a minha vontade era morrer. O problema da insónia não está propriamente na noite. A noite é simples: a escuridão é amiga dos olhos, o silêncio é uma canção de embalar para uma cabeça cansada. O problema do insone são os dias: o terror do dia que chega, a luz que vai furando as persianas do quarto como balas de ouro que trazem consigo o ruído do mundo. Carros. Sirenes de polícia. Vozes. Conversas. Telefones que tocam.
Telefones que imaginamos tocar. E a certeza - a longa certeza - de que a noite chegará. E, com a noite, a evidência de uma nova cruzada. Uma solitária cruzada. Não existe solidão comparável à do insone. Na vida normal, conhecemos pessoas, perdemos pessoas. Ficamos sós. Tudo bem. Ou tudo mal. Mas a solidão do insone é uma solidão desabitada de pessoas. Somos nós e nós e nós. O mundo dorme e nós somos sós.
Disse que tudo começou sem explicação racional. Minto. Lembro agora que a insónia veio com o medo. Da morte, claro. Não sei se li demasiado Shakespeare para saber que os crimes, como em 'Macbeth', se cometem à noite. Adormecer para quê se o sono só traz esquecimento? Se o sono é um simulacro da morte? Melhor não dormir. Melhor não morrer. O caso é cientificamente interessante - disse o analista. O caso é mitologicamente relevante - diz Peter Barber, em artigo recente para o 'Financial Times'. Como relembra o autor, os filhos de Nyx, a deusa grega da noite, eram Hypnos e Thanatos. O Sono e a Morte. Só depois chegou Morfeu, o deus dos sonhos, o filho do Sono.
Não mais. Conta Peter Barber, em tom cético mas ligeiramente festivo, que o sono e os sonhos podem ser relíquias no espaço de dez anos. A ciência não pára. O mundo também não. E uma pílula pode resolver o problema dos homens. Dos homens que dormem. E dos homens que não dormem. A ideia é mimetizar quimicamente o sono, proporcionando o que apenas obtemos com oito ou dez horas de travesseiro: descanso.
Esqueçam o travesseiro. Para quê gastar um terço da vida a dormir quando é possível furar os dias, e as noites, perfeitamente acordados? Será, como dizem os cientistas, a 'conquista da noite', a barreira última do desenvolvimento pós-industrial. Os nossos antepassados regulavam a vida, e o sono, pelo ritmo natural da luz natural. Deitavam-se com a noite, acordavam com a madrugada. Esse mundo passou quando a lâmpada de Edison lançou uma maldição sobre os homens, criando um sol privado em cada habitação. O desafio, agora, é criar um sol privado no interior de cada um. Dormir para quê se é sempre dia dentro de nós?
Dias para trabalhar, explica Barber, porque as novas vigílias não se farão sem trabalho. A lógica é impoluta: viver mais é consumir mais; consumir mais é trabalhar mais. Nenhuma pausa, nenhum silêncio. Como formigas sem inverno. Como formigas de um verão permanente.
Mas não só. O fim do sono não será apenas um convite para uma vida de servidão. Será também o enterro da nossa humanidade mais literal. Disse no início que a minha insónia começou sem explicação racional. Mas eu sei como terminou. A indústria farmacêutica teve uma palavra no processo. O divã também. Mas a palavra decisiva foi a minha. A palavra decisiva é sempre a nossa. Chegou um momento - consciente, inconsciente - em que a insónia foi enxotada do quarto como se o medo fosse um animal feroz e sem rosto. O animal afastou-se. Só então o sono regressou. Verdade que não regressou sozinho. Com ele, regressou a morte. Uma vez mais.
Recebi-a como se recebem os velhos amigos: com confiança e sem temor. E ao cerrar os olhos como se fosse a primeira vez, entendi finalmente que o sono da nossa vida é, como na morte, uma suspensão da própria vida. Mas uma suspensão benigna, temporária e necessária, capaz de nos relembrar, como no amor, que a força da nossa humanidade também repousa nos momentos em que somos inocentes e vulneráveis.
João Pereira Coutinho, 30, é colunista da Folha de S.Paulo. Reuniu seus artigos no livro "Vida Independente: 1998-2003", editado em Portugal, onde vive. Escreve quinzenalmente, às segundas-feiras, para a Folha Online.
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sexta-feira, maio 25, 2007
O amor que nos aparta
O amor que nos aparta A mulher quer o amor romântico. O homem, não, ela diz. A mulher quer construir. O homem, usufruir, ela diz.
Não, não é provocação, mas veja só este personagem, até então ligeiramente amoral, do livro "O Animal Agonizante", de Philip Roth sobre essa digamos assim divergência de pontos de vista: "A grande peça que a biologia prega nas pessoas é que a gente já é íntima antes mesmo de saber coisa alguma a respeito da outra pessoa. No primeiro momento, já entendemos tudo. Um é atraído pela superfície do outro no início, mas também intui a dimensão mais profunda. E a atração não precisa ser equivalente: ela se sente atraída por uma coisa, você por outra. É a superfície, é curiosidade, mas então, pum!, a dimensão profunda. É bom ela ser (...) isso, é bom ela ser aquilo, é bom eu saber tocar piano e ter um manuscrito do Kafka, mas tudo isso não passa de um desvio do caminho que vamos acabar seguindo.
Faz parte do encantamento, imagino; porém, se essa parte não fosse necessária, eu gostaria muito mais. Em matéria de encantamento, o sexo por si só já basta. Será que os homens acham as mulheres tão encantadoras quando o sexo é omitido. Será que alguém, qualquer que seja o sexo, acha alguém encantador se não houver nada sexual entre eles? Tem alguém que encanta você sem ser por isso? Não tem."
Divergência de pontos de vista é piada: trata-se aqui de incompatibilidade irreconciliável, certo moça?
Imagine, sexo basta!
E o amor, que a tudo supera e tudo resolve desde que tenha espaço para simplesmente ser, em sua magnitude e em seu encantamento que tudo supre e tudo acondiciona?
Sei, sei...E os monstros, onde enfiar os monstrinhos que nos tornam cada um a caverna escura de si mesmo, na eterna busca pela luzinha lá no final?
Erro imaginar que esse sentimento que se projeta no outro ou naquilo que nasce do contato com o outro pode encerrar toda a possibilidade incontestável der ser feliz, bem feliz.
Somos bem piores que isso...
Luiz Caversan, 50, é jornalista. Foi repórter especial, diretor da Sucursal do Rio da Folha e editor do caderno TV Folha. Escreve crônicas sobre cultura, política e comportamento aos sábados para a Folha Online.
Postado por Amanda às 12:53 PM 0 comentários