Garotas que dizem ni
Dizem que eles são insuportáveis, abomináveis, indomáveis. Dizem que estão em uma idade miserável e cheia de mimos, manhas, marras. Dizem também que estão em alta, e que tudo o quanto é produto manufaturado visa essa classe. Dizem que eles são a faixa consumidora mais exigente e abonada (abonada com a bufunfa da mamãe, com certeza). Ah, os adolescentes... Dominam todo o recinto aonde estão com sua magia, espontaneidade e falta de noção! Até a sétima arte essa racinha conquistou.
Se tem uma coisa que me mete medo é entrar em sala de cinema e notar que a esmagadora maioria das cadeiras está ocupada pela garotada entre 12 e 17 anos. Primeiro sobe um frio na espinha; depois imagino que o filme foi uma péssima escolha; então noto o zumzum de gritinhos, conversas, chavecos e dá vontade de chorar. Já sei que será uma loooonga sessão. Mas me mantenho firme.
Não atirem balas de menta ou o CD do Linkin Park! Não é preconceito, é fato. Todos já passamos por isso, é bom não esquecer. Mesmo quem hoje diz “eu não era tonto assim no cinema”... ah, está mentindo. Era bobo sim. Senão pior. Eu soltei berros premeditados em “Jurassic Park” só para dar uma de aparecida. E gritei “lindooo!” quando Harrison Ford surgiu em “Indiana Jones e a Última Cruzada”. É bobeira da idade, dá e passa. Quase sempre.
De tanto se fazerem presentes nas salas de cinema, os adolescentes devem ter despertado a sanha mercenária dos executivos de estúdio. Abro aqui o site especializado e vejo: dos dez filmes mais vistos, seis são obviamente destinados aos teens. Eles têm tempo, mesada e uma certa falta de critério. Consomem qualquer coisa! É de fato um grande negócio.
Em tudo quanto é gênero, já existe a versão adolescente. Batido, sem dúvida. E fácil de cair mesmo pra mim, uma já-não-tão-molecota (mas não espalha). Apenas avalio, mais ou menos de longe, o que há em cada setor feito para eles...
Romance teen
Menino popular bate aposta que pega a menina nerd, mas ele se apaixona, e a menina nerd descobre, e eles brigam, reatam ao som de banda do momento e fim. Ou: menina popular está em crise existencial, conhece menino nerd, apaixona, fica em dúvida sobre ser popular ou mostrar seu eu interior, eles brigam, reatam ao som de banda do momento e fim. Assim acontece em 99% dos romancinhos para adolescentes. Em tempo: precisa ter a presença do Freddie Prinze Jr. ou da Hillary Duff. Em tempo 2: eu caio nessas.
Terror teen
Eles mal têm permissão para dirigir ou beber. Mas correm de modo alucinado por mansões decrépitas no meio do nada fugindo de assassinos sanguinários. E escorre sangue, viu? Mostra-se tudo, sem censura. Vísceras brotam do tórax, membros são decepados, há escalpo, decapitação, enforcamento, todo tipo de morte matada bem nojenta. Tudo ao som de uma banda do momento, claro, e com duas ou três gostosas de 32 anos fingindo ter 17 – e com um botão da blusa escandalosamente faltando. Ah, e eu caio nesses também.
Drama teen
Filme de adulto choroso fala sobre doenças graves, conflitos familiares sérios, sofrimento profundo por causa de filhos, marido, amante. Filme de adolescente choroso também, basta aplicar diálogos com gírias e destacar atores semi-convincentes. Não convence, de qualquer jeito. Principalmente se eles aprenderem a chorar apenas com a ajuda de cristais. Mas vai bem se a temática girar em torno de garotas que se vestem de rapazes e são apaixonadas por garotas ou moleques que lêem poesia e forjam uma amizade eterna com a ajuda de seu professor magnânimo. Lógico, eu caio nesses. E choro (ao som da balada da banda do momento).
Comédia teen
Roteiro muito complexo que envolve pais em viagem, garoto com más intenções, policiais ranhetas, aventuras noturnas e um amasso com uma loira fatal qualquer. Também vale criar qualquer maluquice improvável, como um rapazote que se transforma em lobisomem ou que morre e reencarna em outro corpo só para... er... vencer as finais do basquete colegial? Pode ser. Tanto faz. Desde que tenha guerra de comida no refeitório - sim, ao som da banda do momento - e um final edificante, quando um marmanjo aceita o excluído no grupo e puxa uma salva de palmas com a escola toda. Sim, pode apostar seus pompons de líder de torcida: eu caio em todas elas.
Fantasia teen
Até nesse gênero complexo eles estão dando as cartas. Começou discretamente lá nos anos 80 com “A Lenda” e “Labirinto”. Foi ignorado por algum tempo – afinal, pra quê gastar dólares com maquiagem e figurino se podemos filmar com o Freedie Prinze Jr. numa escola? – e retornou com “O Senhor dos Anéis”, “Harry Potter” e as famigeradas “Crônicas de Nárnia”. Ah, você diz, mas isso não atrai apenas adolescentes. Mas eles não esperam convite e estarão lá na salona, conversando feito papagaios, chutando a poltrona alheia, espalhando pipoca pelos ares, fazendo piadinhas quase engraçadas. Não são deliciosamente odiosos? Eu caio no charme deles.
**Muito bom esse texto. Para aqueles que como eu, tem vontade de ser jogar da ponte Costa e Silva só para não ir ao cinema no Pier 21 sabádo.
PS: Quem não sabe onde fica o Pier 21, pense no habitat natural de teens de classe média para cima.
quarta-feira, março 29, 2006
O cinema enquanto Teen
Postado por Amanda às 12:33 PM 0 comentários
Marcadores: alheios
terça-feira, março 28, 2006
CANÇÄO DO AMOR IMPREVISTO
Mário Quintana, in "Cançöes" de 1946
Eu sou um homem fechado,
O mundo me tornou egoísta e mau.
E a minha poesia é um vício triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com tua boca fresca de madrugada,
Com teu passo leve,
Com esses teus cabelos...
E o homem taciturno ficou imóvel,
sem compreender nada,
numa alegria atônita...
A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos!
Postado por Amanda às 9:43 AM 0 comentários
segunda-feira, março 27, 2006
TORCH
Olá, caro único leitor amigo. Sei que você anda reclamando minha ausência, que não escrevo mais...
Porém, informo que a coluna "Sobre o Tudo e o Nada" não será mais publicado no TORCH*, agora fui contratada para escrever no Daily Planet*. Tenterei agora publicar textos mais condizentes com o novo veículo, só não sei se a conseguirei.
Espero contar com um novo colunista um filósofo-jornalista-diplomata (ou uma permutação das três profissões combinadas com um pseudo-boêmio), que tem como obra prima o livro "Poligamia Madura: Teoria X Prática".
Um dia eu passo a entender a poligamia madura...
* Se você não entendeu as citações dos jornais, você anda fora desse planeta, talvez você ande por Kypton. Para melhorar isso, eu recomendo que você assista pelo menos as duas primeiras temporadas de Smallville para se atualizar.
Postado por Amanda às 3:13 PM 1 comentários
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