Na trilogia sobre as prisões dos seres humanos, Alexandre expõe a monogamia, texto já postado neste blog, a verdade e o patriotismo. Hoje postarei o texto sobre a verdade. Achei bem interessante, mesmo ainda estando acorrentada a necessidade da verdade e da intensidade. Por sinal, acho que as minhas prisões não seriam a monogamia, o patriotismo e a verdade, mas sim: a VERDADE, a INTENSIDADE e a PERFEIÇÃO.
Para quem quiser conferir outros textos do jornalista:
www.liberallibertariolibertino.blogspot.com
A Verdade
Alexandre Cruz Almeida
A verdade? A verdade é uma piada, a verdade não vale uma gota de porra. Pela verdade, já se matou e morreu, e pra quê? A verdade sem felicidade vale alguma coisa?
A verdade é inimiga do homem.
O homem mais feliz do mundo, que sabe tudo o que há pra se saber, que voa entre as nuvens como os urubus, que fuma, bebe e cheira sem se preocupar com o dia de amanhã, que come todas as mulheres que deseja, e sem camisinha, que utilidade pode ter pra ele a verdade? Por que ele quereria saber que, na verdade, está sentado no pátio de uma clínica, que ele baba e que a baba escorre viscosa pelo seu ombro esquerdo e que ele nem mesmo tempo controle de seu intestino, e que um enfermeiro mal pago limpa sua merda três vezes por dia enquanto suspira e pensa em sua namorada, no Grajaú? O que adianta uma verdade que não leva a nada? Quem lucra com essa verdade?
A verdade torna-se útil somente quando instrumento para atingir a liberdade e a felicidade. Boa por si só, intrinsecamente boa, isso ela nunca é. Mas, quase sempre, a verdade é sua própria justificativa e seu próprio fim, e leva apenas a mais e mais verdade. Nos ensinam que a verdade é boa, independente das conseqüências.
A verdade é uma armadilha.
Quando parei de me preocupar com a verdade, senti os grilhões se quebrarem. Só quando parei de me perguntar: ela está falando a verdade? será que ele mentiu?, consegui realmente me abrir para o mundo. E daí que mintam pra mim? A outra grande libertação foi me libertar de me importar. Eu não ligo. Podem mentir. Podem inventar. O que me importa?A verdade não vale nada.
O momento me importa. Me importa sentar com uma amiga e me deliciar com o que ela conta sobre a noite anterior. E todos os detalhes sórdidos. E o sexo. E gosto que ela veja meu pau duro, e gosto de ver que ela está gostando de me ver de pau duro, e por isso vai acrescentando mais detalhes, e ela conhece minhas taras e fetiches, sabe apertar os botões certos, e ela conta como seu parceiro tinha lambido seus pés e que não há nada melhor do que um homem que sabe lamber os pés da gente, e, cretina, ela sabe que eu sonho em lamber e beijar seus pés, estava há dois meses tentando levá-la pra cama, e por isso mesmo ela me provoca, mais e mais, e eu me perco no momento, nado em seu olhar de malícia cruel, me espreguiço na pulsação da minha ereção e me escavo pra dentro daquela noite, me imagino no lugar do outro homem, transando com uma mulher tão sexy, e me imagino na cabeça de minha amiga, se deliciando em me atiçar, e vou assim pulando de personagem em personagem, uma hora sou ela na cama com outro homem, saboreando tê-lo aos seus pés, outra hora sou ele, na cama com ela, excitado por estar finalmente a sós com a mulher que ele cortejava há 14 anos, outra hora sou ela, ao meu lado, que me conhece bem, contando apenas os detalhes que sabe que mais me excitam, esticando-os, tirando seu leite, me olhando com olhos perversos, me excitando para o que sabe que nunca me dará, ou então me preparando para o que está ávida para me dar, ainda não sei, vivo no presente, e logo volto a mim, e sou de novo o Alexandre, que ouve a história com excitação e sem critério, que se perde no momento.
E, depois disso, uma amiga que estava ao meu lado, uma amiga que, por sua vez, queria ME levar pra cama, uma amiga que tinha acompanhado enciumada e atiçada toda aquela cena (que foi mais discreta do que fiz parecer, mas mulher repara, óbvio, sempre) e minha amiga disse, entre os dentes, irritada, que era óbvio que aquela história era inventada. Alexandre, ela só está querendo te atiçar!
Esse comentário já é tão alienígena pra mim que sinto dificuldade até de compreendê-lo. Me libertei da prisão da verdade há tanto tempo que me espanto de ver quanta gente ainda anda acorrentada ao chão. E as pessoas, claro, também se assustam comigo quando digo que não me interessa se é verdade ou não, que nem ao menos pensei nisso, que nem ao menos considerei essa possibilidade, que não considero essa possibilidade agora nem nunca considerarei porque ela é totalmente irrelevante, totalmente simplória e mesquinha. E me olham como se eu fosse um bicho, eu sim, o simplório, o otário, o que cai em qualquer conto. E não entendem que eu não ter me questionado se a história era ou não verdade não quer dizer que engoli a história, isso também seria simplório.
O ato de contar-a-história é o fato em si, é o único fato que importa. Importa minha ereção, importam as palavras dela, importam seus olhos entreabertos saboreando minha excitação, importa seu cruzar e descruzar de pernas, importa o giro de seu tornozelo, chamando minha atenção para suas botas. O contar-a-história foi um fato concreto, foi um momento vivido no meu presente e que vai se estender do passado até a eternidade, foi um momento eterno. Só isso é concreto, o resto é abstrato.
O que me importa se, abstratamente falando, minha amiga transou mesmo com o cara daquele jeito, ou se transou de outro jeito, ou se nem transou, ou, quem sabe, até inventou o amigo, catorze anos mais velho, que sempre a vigiou com desejo, e ela, desde pequena, sabia provocá-lo e desdenhá-lo, mas, naquela semana, ele tinha subitamente ligado e ela, como estava livre (estava e não estava, estava era ativamente flertando comigo, a safada, mas tudo bem), decidiu que finalmente daria pra ele o que ele sempre quis, e agora me contava aquela história tão comum e sórdida, e ao mesmo tempo tão deliciosa.A solidez do presente é tão intensa, tão iminente, que a possível veracidade do passado some totalmente na comparação. Questionar a veracidade da história nunca me passou pela cabeça, foi uma não-questão, uma não-tentação.
O futuro sim, esse tem alguma importância. Afinal, ela me conta essa história só pra me atiçar e depois me deixar na saudade, como seu amigo ficou por 14 anos, ou para me preparar pra sexo iminente no futuro próximo?
Essa pergunta-futuro eu quase me faço. Mas não faço. Dessa etapa, também evoluí. Julgar um momento-presente e concreto com base no que pode ou não acontecer em um futuro abstrato também é uma das piores formas de prisão. Como podemos aproveitar o presente se o critério para saber se ele vale ou não a pena ainda não aconteceu?
O presente existe por si só. O futuro é o presente do amanhã, nada mais.
A liberdade é importante, mas só enquanto meio. O fim maior sempre deve ser a felicidade. Se lutamos pela liberdade, é para podermos ser felizes. A liberdade é um excelente modo de viver, mas como fim último, ela é insossa. Pra que serve a liberdade se você é infeliz?Só a felicidade realmente importa. Deixar a verdade estragar isso é um crime.
Para quem quiser conferir outros textos do jornalista:
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A Verdade
Alexandre Cruz Almeida
A verdade? A verdade é uma piada, a verdade não vale uma gota de porra. Pela verdade, já se matou e morreu, e pra quê? A verdade sem felicidade vale alguma coisa?
A verdade é inimiga do homem.
O homem mais feliz do mundo, que sabe tudo o que há pra se saber, que voa entre as nuvens como os urubus, que fuma, bebe e cheira sem se preocupar com o dia de amanhã, que come todas as mulheres que deseja, e sem camisinha, que utilidade pode ter pra ele a verdade? Por que ele quereria saber que, na verdade, está sentado no pátio de uma clínica, que ele baba e que a baba escorre viscosa pelo seu ombro esquerdo e que ele nem mesmo tempo controle de seu intestino, e que um enfermeiro mal pago limpa sua merda três vezes por dia enquanto suspira e pensa em sua namorada, no Grajaú? O que adianta uma verdade que não leva a nada? Quem lucra com essa verdade?
A verdade torna-se útil somente quando instrumento para atingir a liberdade e a felicidade. Boa por si só, intrinsecamente boa, isso ela nunca é. Mas, quase sempre, a verdade é sua própria justificativa e seu próprio fim, e leva apenas a mais e mais verdade. Nos ensinam que a verdade é boa, independente das conseqüências.
A verdade é uma armadilha.
Quando parei de me preocupar com a verdade, senti os grilhões se quebrarem. Só quando parei de me perguntar: ela está falando a verdade? será que ele mentiu?, consegui realmente me abrir para o mundo. E daí que mintam pra mim? A outra grande libertação foi me libertar de me importar. Eu não ligo. Podem mentir. Podem inventar. O que me importa?A verdade não vale nada.
O momento me importa. Me importa sentar com uma amiga e me deliciar com o que ela conta sobre a noite anterior. E todos os detalhes sórdidos. E o sexo. E gosto que ela veja meu pau duro, e gosto de ver que ela está gostando de me ver de pau duro, e por isso vai acrescentando mais detalhes, e ela conhece minhas taras e fetiches, sabe apertar os botões certos, e ela conta como seu parceiro tinha lambido seus pés e que não há nada melhor do que um homem que sabe lamber os pés da gente, e, cretina, ela sabe que eu sonho em lamber e beijar seus pés, estava há dois meses tentando levá-la pra cama, e por isso mesmo ela me provoca, mais e mais, e eu me perco no momento, nado em seu olhar de malícia cruel, me espreguiço na pulsação da minha ereção e me escavo pra dentro daquela noite, me imagino no lugar do outro homem, transando com uma mulher tão sexy, e me imagino na cabeça de minha amiga, se deliciando em me atiçar, e vou assim pulando de personagem em personagem, uma hora sou ela na cama com outro homem, saboreando tê-lo aos seus pés, outra hora sou ele, na cama com ela, excitado por estar finalmente a sós com a mulher que ele cortejava há 14 anos, outra hora sou ela, ao meu lado, que me conhece bem, contando apenas os detalhes que sabe que mais me excitam, esticando-os, tirando seu leite, me olhando com olhos perversos, me excitando para o que sabe que nunca me dará, ou então me preparando para o que está ávida para me dar, ainda não sei, vivo no presente, e logo volto a mim, e sou de novo o Alexandre, que ouve a história com excitação e sem critério, que se perde no momento.
E, depois disso, uma amiga que estava ao meu lado, uma amiga que, por sua vez, queria ME levar pra cama, uma amiga que tinha acompanhado enciumada e atiçada toda aquela cena (que foi mais discreta do que fiz parecer, mas mulher repara, óbvio, sempre) e minha amiga disse, entre os dentes, irritada, que era óbvio que aquela história era inventada. Alexandre, ela só está querendo te atiçar!
Esse comentário já é tão alienígena pra mim que sinto dificuldade até de compreendê-lo. Me libertei da prisão da verdade há tanto tempo que me espanto de ver quanta gente ainda anda acorrentada ao chão. E as pessoas, claro, também se assustam comigo quando digo que não me interessa se é verdade ou não, que nem ao menos pensei nisso, que nem ao menos considerei essa possibilidade, que não considero essa possibilidade agora nem nunca considerarei porque ela é totalmente irrelevante, totalmente simplória e mesquinha. E me olham como se eu fosse um bicho, eu sim, o simplório, o otário, o que cai em qualquer conto. E não entendem que eu não ter me questionado se a história era ou não verdade não quer dizer que engoli a história, isso também seria simplório.
O ato de contar-a-história é o fato em si, é o único fato que importa. Importa minha ereção, importam as palavras dela, importam seus olhos entreabertos saboreando minha excitação, importa seu cruzar e descruzar de pernas, importa o giro de seu tornozelo, chamando minha atenção para suas botas. O contar-a-história foi um fato concreto, foi um momento vivido no meu presente e que vai se estender do passado até a eternidade, foi um momento eterno. Só isso é concreto, o resto é abstrato.
O que me importa se, abstratamente falando, minha amiga transou mesmo com o cara daquele jeito, ou se transou de outro jeito, ou se nem transou, ou, quem sabe, até inventou o amigo, catorze anos mais velho, que sempre a vigiou com desejo, e ela, desde pequena, sabia provocá-lo e desdenhá-lo, mas, naquela semana, ele tinha subitamente ligado e ela, como estava livre (estava e não estava, estava era ativamente flertando comigo, a safada, mas tudo bem), decidiu que finalmente daria pra ele o que ele sempre quis, e agora me contava aquela história tão comum e sórdida, e ao mesmo tempo tão deliciosa.A solidez do presente é tão intensa, tão iminente, que a possível veracidade do passado some totalmente na comparação. Questionar a veracidade da história nunca me passou pela cabeça, foi uma não-questão, uma não-tentação.
O futuro sim, esse tem alguma importância. Afinal, ela me conta essa história só pra me atiçar e depois me deixar na saudade, como seu amigo ficou por 14 anos, ou para me preparar pra sexo iminente no futuro próximo?
Essa pergunta-futuro eu quase me faço. Mas não faço. Dessa etapa, também evoluí. Julgar um momento-presente e concreto com base no que pode ou não acontecer em um futuro abstrato também é uma das piores formas de prisão. Como podemos aproveitar o presente se o critério para saber se ele vale ou não a pena ainda não aconteceu?
O presente existe por si só. O futuro é o presente do amanhã, nada mais.
A liberdade é importante, mas só enquanto meio. O fim maior sempre deve ser a felicidade. Se lutamos pela liberdade, é para podermos ser felizes. A liberdade é um excelente modo de viver, mas como fim último, ela é insossa. Pra que serve a liberdade se você é infeliz?Só a felicidade realmente importa. Deixar a verdade estragar isso é um crime.
2 comentários:
Amandita,
Seu blog tá muito legal . Aliás tudo que vc pega pra fazer acaba saindo EXCELENTE! Mas devo comunicar-lhe que prefiro o seu fotolog, to com muitas saudades dele!! Eu adorava ver as fotos do pessoal hehehe
Um bjão.
Oi, Amanda, seu blog tá legal demais, que texto é esse!!!
Enfim, a pílula vermelha ou a azul? Liberdade e verdade talvez não sirvam mto se vc não faz nada com elas, mas são essenciais, requisitos pra se chegar à felicidade - quer dizer, sem deixar de considerar que a verdade não única!
E esse texto da monogamia tá excelente - como diria nosso caro amigo aí de cima, Dr. Folly - , espero que um dia vc adira (que verbo feio, será defectivo?enfim, sou contra gramática engessadora) à teoria da Poligamia Madura. Como diria um dos mais conspícuos precursores da Poligamia Madura, Nietzsche, "O amor destinado a um só é uma barbaridade, porque se exerce à custa de todos os outros. O mesmo quanto ao amor por Deus!"
Enfim, mas mesmo que essa última idéia não seja mto boa - que se pense o que quiser, nem todo mundo quer viver como Sartre e Simone - , a verdade (!) é que relacionamentos dependentes limitam as possibilidades da existência. O relacionamento saudável, interessante, é o libertador (não importa se monogâmico ou não, se estamos falando de "namoro ou amizade", de irmandade, enfim!), que faz ambos crescerem e se tornarem mais independentes, mais completos em si mesmos.
Como diria a podre da Alanis - depois daquele show em bsb, ningúem merece - "I don't want to be your other half, I believe that 1 and 1 make 2".
A gente vai aprendendo!
Parabéns pelo Blog, Amandita, vou ter que frequentar. bjos
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