Carol Nogueira
Nunca concordei muito com essa história de que Brasília não tem esquina. Olho para o Beirute e o Libanus e me pergunto sempre o que diabo que as esquinas têm e eles não. Será só por que as nossas ruas não tem nome de gente?, mas que discriminação danada!
RobertoDaMatteando um pouco, desconfio seriamente que quando o resto do Brasil fala da nossa carência de esquinas não está falando só do encontro de duas ruas, a Ipiranga com a São João, a Prudente com a imprudente de Moraes. Existe aí todo um sentido escondido: do barzinho que despeja suas cadeiras displicentemente nas calçadas, da padaria que junta gente para o café da manhã e a pinga da tarde, da lotérica que forma fila de esperançosos e pagadores de contas. A “esquina” de que nos privam é tudo isso numa palavrinha de sete letras.
Então quando repetem, assim, que Brasília não tem esquina, querem dizer mesmo é que nos falta essa espontaneidade toda, essa naturalidade. Estão nos acusando de burocráticos e de frios. Dizem que não estamos nas ruas, mas nas repartições, nos escritórios. Pelas costas, cochicham que não gostamos do povo, que somos da turma do ar-condicionado. Prova maior é que outro ainda mais eufêmico disse que nossas esquinas são nossos shopping-centers. À vera, querem dizer que somos elitistas, encastelados, preconceituosos.
Por isso mesmo é que sou contra esse clichê que nos persegue, mais esse, de que Brasília não tem esquinas. Temos uma lista bem maior que essa do primeiro parágrafo de bares que chegaram às nossas calçadas, às árvores, à beira dos prédios residenciais, num desafio respeitoso ao nosso planejamento. Temos lojinhas fofas, gente na rua, bancos, mercados, empresas. Crianças nas bancas de revistas, escolas, confeitarias elegantes que reúnem nossa muito bem vivida terceira-idade.
Não dá trabalho perceber: espia a cidade e repara nas esquinas que se formam a cada par de quadras residenciais. Temos esquinas, sim, senhor – só que aqui elas atendem pelo simpático nome de entrequadras.
Carol Nogueira é jornalista, brasiliense convicta e está pasma de ver que até no Houaiss existe uma referência ao nosso suposto desesquinamento. Ela escreve a coluna grande-circular quinzenalmente no Canal Brasília do www.candango.com.br .
2 comentários:
A Carol Nogueira já foi mais feliz em alguns artigos. Brasília já é tão maravilhosa. Ninguém precisa ficar provando que a cidade é perfeita (mesmo porque não é). Sugiro que ela vá até Goiânia, São Paulo, ou, quem sabe, até mesmo ao gama, para descobrir o real significado de esquina.
Retardado! Ver-se logo que você não é daqui. Pois quem é daqui sabe que a cidade não são seus políticos ou tão pouco essa gente forasteira que rótula qualquer vontade de ficar só como friesa.
Rodis, pica a mula!
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